Ao ler recentemente uma matéria do Financial Times (23/10/2023), escrita por Aswath Damodaran, professor de Finanças na NYU Stern, fiquei estarrecido com a visão dele sobre o tema. Link para a matéria original: FT – artigo de Aswath Damodaran.

Decidi, então, apresentar um contraponto abrangente às críticas feitas ao ESG (Ambiental, Social e Governança), defendendo sua relevância e potencial no cenário contemporâneo de investimentos. Abordo a evolução do ESG, suas métricas, impacto financeiro, inovação empresarial, responsabilidade social e práticas de governança — sempre com foco prático.

Objetivo: promover um debate construtivo sobre o papel do ESG na construção de um futuro empresarial sustentável e eticamente responsável.

A evolução do ESG e sua necessidade

A crítica de que o ESG “se desvirtuou” ignora uma evolução natural em resposta às mudanças sociais e econômicas. O ESG surge como estratégia diante das novas demandas por responsabilidade corporativa, refletindo a mudança no papel das empresas na sociedade. Em um ambiente competitivo, sustentabilidade e responsabilidade social tornaram-se fatores decisivos para longevidade e sucesso.

Críticas às métricas de ESG

Dizer que as métricas são “amplas e ineficazes” desconsidera o avanço de padrões como GRI e SASB, que buscam avaliações mais precisas e comparáveis. A diversidade de métricas é força — permite análises contextualizadas por setor e estimula inovação contínua na qualidade do reporte.

O mito dos retornos menores

A hipótese de que “ESG piora performance” é cada vez mais contestada. Evidências de pesquisas (p.ex., Morgan Stanley, Harvard Business School) indicam que práticas ESG robustas se associam a maior resiliência em crises e desempenho superior no longo prazo, fruto de melhor gestão de riscos, eficiência operacional e reputação — além de atrair capital de investidores conscientes.

Core competencies e inovação

“ESG só aumenta custo” ignora o potencial transformador. Casos como Unilever (Plano de Vida Sustentável) e Tesla (eletrificação automotiva) mostram que integrar sustentabilidade ao core cria diferenciação e abre mercados, ao mesmo tempo reduzindo ineficiências.

O impacto social do ESG

A crítica de que o ESG “não serve à sociedade” não resiste à evidência de programas que geram impacto real, como os da Patagonia (sustentabilidade e comércio justo) e da Microsoft (diversidade e inclusão). O ESG funciona como framework que organiza, direciona e mede esse impacto.

A governança na prática

ESG não “dilui responsabilidades”; complementa e fortalece a governança. Na prática, vemos comitês de sustentabilidade no conselho, metas ESG na remuneração executiva e processos de risk management ampliados para fatores ambientais e sociais.

ESG e inovação tecnológica

A fronteira ESG–tecnologia é promissora: IA para otimização energética; blockchain para transparência em cadeias de suprimento; e renováveis em rápida evolução. Há um ciclo virtuoso: tecnologia viabiliza ESG melhor implementado; ESG acelera demanda por tecnologia.

Gestão de riscos com ESG

Talvez a contribuição mais material do ESG: incorporar riscos ambientais, sociais e de governança amplia a visão e antecipa ameaças. Ex.: riscos climáticos cada vez mais são riscos financeiros — integrar ESG posiciona melhor as empresas para mitigar impactos em operações e cadeias.

Engajamento de funcionários

ESG também retém talentos. Pesquisas (p.ex., Deloitte) mostram que grande parte dos millennials considera compromisso socioambiental ao escolher empregadores. Programas de voluntariado, sustentabilidade interna e D&I aumentam satisfação e produtividade.

Performance de longo prazo

Relatórios como os da BlackRock e estudos da McKinsey indicam correlação entre alto desempenho ESG e menor volatilidade de lucros, melhor retorno ajustado ao risco e custo de capital mais baixo. ESG não é só “ética”: é estratégia para sustentabilidade financeira.

O futuro do ESG: tendências e desafios

  • Padronização regulatória: avanço de normas globais (p.ex., IFRS Foundation para sustentabilidade).
  • Dados e tecnologia: uso intensivo de IA e big data para mensuração quase em tempo real.
  • Novas frentes: biodiversidade, direitos humanos na cadeia e economia circular.

Transformação dos modelos de negócios

ESG catalisa mudanças no core business: moda com economia circular; energia migrando para renováveis; práticas de trabalho flexíveis; bem-estar; diversidade e inclusão como estratégia. O resultado é criação de valor de longo prazo, não apenas conformidade.

O papel dos investidores

Investidores lideram a adoção: gestores como BlackRock e Vanguard priorizam critérios ESG e cobram transparência, levando a engajamento ativo e ao aumento do ativismo acionário em clima e diversidade de conselhos.

Conclusão

ESG não é moda. É um componente estrutural da estratégia moderna. As críticas ajudam — apontam onde aprimorar métricas e implementação —, mas não invalidam a direção. Quem enxergar ESG como oportunidade de inovação e criação de valor estará melhor posicionado para prosperar em um mundo que exige responsabilidade e sustentabilidade.


Autor: Paulo Josef G. da Gama — Atuário (MIBA 978), Especialista em ESG.

Publicado originalmente em: Blog de Paulo Josef