Na edição jan/fev de 2025 da revista Investidor Institucional, a matéria “ESG em tempos de negacionismo” destacou impactos de políticas climáticas negacionistas no cenário global. Enquanto o “E” domina debates e investimentos — impulsionado por marcos como a COP30 e a Taxonomia Sustentável Brasileira — os pilares “S” (social) e “G” (governança) seguem subexplorados no Brasil. Este artigo amplia a análise e propõe caminhos para reequilibrar a agenda.

Governança: um pilar frágil no Brasil

Governança (o “G”) sustenta transparência, ética e accountability. Persistem, porém, desafios estruturais:

  • Comitês: excesso em algumas empresas e ausência em outras.
  • Diversidade: sub-representação feminina em conselhos e diretorias.
  • Rotatividade e acúmulo: conselheiros em múltiplos boards, reduzindo eficácia.
  • Resistência a minoritários: vistos como “espiões”, o que empobrece perspectivas e inibe inovação.

Exemplo: a Natura ampliou a representação feminina em conselhos, aprimorando decisões estratégicas e reputação global.

Responsabilidade social: uma agenda invisível

O “S” — impacto em comunidades, condições de trabalho, diversidade e inclusão — raramente recebe a mesma atenção. Em muitos casos, iniciativas sociais nem chegam aos relatórios das companhias, exigindo intervenção de consultorias para coleta de dados.

Exemplo: a Marfrig implementou rastreabilidade e combate ao desmatamento ilegal, beneficiando meio ambiente e comunidades locais — práticas replicáveis a outros setores.

Por que “S” e “G” importam?

  • Risco e reputação: falhas em governança/social geram perdas financeiras, sanções e destruição de valor.
  • Inovação e adaptação: conselhos diversos e diálogo com comunidades ampliam capacidade de resposta a um mundo em mudança.

O papel dos investidores institucionais

EFPCs e RPPSs têm mandato de longo prazo que inclui riscos socioambientais. Há avanços — como adesão ao Stewardship Code e maior uso de critérios qualitativos —, mas ainda falta proatividade e cobrança consistente por “S” e “G”.

“Se o mercado não cobrar itens de governança, as informações ESG ficarão muito concentradas no ‘E’ de ambiental.”

Werner Roger, Trígono Capital

Soluções práticas para reequilibrar a agenda

  • Métricas claras: KPIs de governança (independência do conselho, diversidade, assiduidade) e de impacto social.
  • Voto ativo: participação em assembleias e oposição a práticas inadequadas.
  • Engajamento estruturado: trilhas de melhoria com prazos e metas públicas.
  • Ações coletivas: adesão a iniciativas como o Spring do PRI (biodiversidade e cadeias), entre outras.
  • Transparência: relatórios que “abram a caixa” de políticas e resultados sociais e de governança.
  • Educação contínua: capacitação de times de investimentos e conselhos em “S” e “G”.

Rumo a um ESG equilibrado

Com COP30 e a Taxonomia Brasileira no horizonte, o Brasil tem chance de reposicionar “S” e “G” no centro da agenda. Investidores institucionais devem liderar a cobrança por transparência e melhores práticas — e as empresas precisam responder com governança robusta e ação social consistente.


Autor: Paulo Josef Gouvea da Gama — Atuário (MIBA 978), Especialista em ESG.

Publicado originalmente em: Blog de Paulo Josef